8 de jun. de 2013

Ana C.

Porque escreve e rasga a fogo
o que te dei e arrisca
meu nome na roleta?
Por que esta exposição à luz?
Espero que me liguem
a algum pedaço de terra.
Aqui no fundo do horto florestal
ouço coisas que nunca ouvi,
Pássaros que gemem.
Aguço o ouvido.
Peço a mim mesma que ligue, ligue, ligue
Os aparelhos surdos que só fazem som e tomam
o lugar clandestino da felicidade.
Preciso me atar ao velame com as próprias mãos.
Sopra fúria.

 
Nada disfarça o apuro do amor.
Um carro em ré. Memória da água em movimento. Beijo.
Gosto particular da tua boca. Último trem subindo ao céu.
Aguço o ouvido.
Os aparelhos que só fazem som ocupam o lugar
clandestino da felicidade.
Preciso me atar ao velame com as próprias mãos.
Sirgar.
Daqui ao fundo do horto florestal ouço coisas que
nunca ouvi, pássaros que gemem.

Ana Cristina Cesar

Inéditos e Dispersos; Brasiliense [1985]
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