29 de ago. de 2009

mú.si.ca Simone Weil máquinas


Aerostato
Arte no Homem do Vale
aerostatousina.blogspot.com
Sentir a música é uma evolução na humanidade, com um pouco de entusiasmo. A mais introspectiva melodia nos dar, ao saber, o caráter de toda uma arte.
Assim como os tambores pré-históricos animaram nossas fogueiras o que é SINT [de sintética] em música alimenta um espírito primitivo residente em nós. Seria mesmo uma faculdade humana que diferente das outras tecnologias [artes] anima nosso convívio, conforta, auxilia o metabolismo, desperta e relaxa a mente, quer queiramos ou não. Somente o nariz também é atacado assim, a culinária e a perfumaria explicam... Animados pela música [e já é bem prático dizer nisso que aqui nesse contexto música é todo o som ouvido, consciente ou não, curtido ou... Sentido. Sim, porque é necessário para o bem dos nossos sentidos que saibamos fazer a distinção acertada entre: Música – Arte; a música – Som, e “aquela música” - Canção de sucesso:

mú.si.ca
Letra: Michaelis

s. f. 1. Arte e técnica de combinar
sons de maneira agradável ao ouvido.
2. Composição musical. 3. Execução
de qualquer peça musical.

4. Conjunto ou corporação de músicos.
5. Coleção de papéis ou livros em que estão
escritas as composições musicais.
6. Qualquer conjunto de sons.
7. Som agradável; harmonia. 8. Gorjeio.
9. Suavidade, ternura, doçura.
10. Fam. Choro, manha.

O bom questionamento inclui no sentido os ruídos produzidos pelas diferentes máquinas, com ou sem nossa atenciosa regência e observação.
Dos motores e aparelhos elétricos salta um arranjo mixado aleatoriamente aos sons da fala, com os jingles publicitários, o rádio sintonizando um jabá, do corpo mesmo arrastando uma função, etc. Concorrem concertando uma sinfonia que ou acalma ou morde o já atacado juízo imprevidente. Animada por essa orquestra nossas relações interpessoais são cheias de memórias, coisa pelo bem sentido, sabido, que somente nos acomete com os aromas, sendo nesse caso o olfato mais preciso, imediato. Um ruído bem empregado faz maravilhas ao cérebro da gente, pesquisas não muito divulgadas relatam que mesmo as plantas sentem e reagem ao som do ambiente.



Acabo de ser apresentado a uma jovem através de um livro que me caiu na leitura [textos dos anos 30 do século passado], de educadora reformista e brilhante ativista na política trabalhista ela se entregou ao desumano trabalho nas fábricas daquela época para sentir e analisar o que representava o trabalho com as máquinas para o esforço, o espírito e a razão humana. A usina, enquanto drama, ensaiou em Simone [Weil,1909-1943] a impressionante iluminação de que o ser, sendo filho dos sentidos, submetido aos rigores do convívio com o som caótico que exala da máquina se embrutece, anestesiado pelo ritmo em desajuste com o seu organismo. O desenraizamento era um tema constante de suas anotações.  Numa visionária pauta das reivindicações proletárias ela nos sugere que até mesmo os barulhos sonoros desses “instrumentos” devem ser ajustados ao sentido humano.
Como necessidade um maestro faria, dos ruídos despertados da matéria bruta, uma melodia que melhorasse as relações entre os indivíduos cotidianamente sujeitos a esse impasse. Lendo esse texto lembrei que a idéia central de dançando no escuro [dancing in the dark, de Las Von Trier] pode ser essa música eletrônica acordando das máquinas, acho que 70% da música que é consumida mediante canções Pops são produzidas sinteticamente. Já nos anos 60 a música do Velvet Underground [na Factory] era a perfeita combinação de poesia, efeitos sonoros, ruídos e melodias, o Tecno [do Kraftwerk e de Góticos tipo Bauhaus] e seus seguidores e a Ambiente music e os desdobramentos desse Lounge Groovie atual são a experiência artística do que a sensibilidade pode fazer com uma máquina, uma fábrica, uma cidade. Selma está perdendo a visão [vivida/ interpretada por Bjork, a fada/wicca primitiva/ high-tec da música Pop atual tragada pelo dogma de Las, culto anarquista], os sons e silêncios lhe são preciosos, os seus outros sentidos estão se ajustando a novidade da cegueira. O ambiente virando espaço. Neste musical ela canta um mundo de miragem no deserto da impostura cotidiana, uma sofrida moça faz dos ruídos da fábrica esperança e melodia, Simone revive.
Demora um pouco as obras que estão na moda me chegarem à leitura, por vezes a aceitação na oferta só me faz guardá-las em casa esperando o meu sorteio para assimilação, esse filme mesmo vi apenas há uns meses atrás, já conhecia a resenha, trilha sonora, conheço Las e Bjork de primeira hora, mas vá lá... Estímulos normalmente só me alcançam significativos ao meu ritmo, o da casualidade. É mágico ver como a literatura, a música e o cinema me chegaram para esta nova utopia: alguma coisa muito bonita e coerente está acontecendo com a gente, a terra está nos ensinando a amá-la, respeitá-la, como a grande mãe que também deveria ser a escola, a cidade, a usina/fábrica. E é lindo e acertado o que Simone escreveu pra nós: “Que o ser não só saiba o que faz, mas, se possível, perceba o uso. Perceba a [sua] natureza modificada por ele. Que pra cada um, seu próprio trabalho seja um objeto [motivo] de contemplação.”
Nesse ínterim estou muito ocupado com sons, com a ajuda de um amigo eu digitalizei uns k-7s que produzidos naquela vanguarda de meus 18/20 anos, são em sua maioria a aproximação com a música sendo extraída sem o uso de instrumentos musicais no sentido corrente [e não pense em Naná ou Hermeto fazendo melodias com o corpo e panelas!], são a desavergonhada exploração de picapes e LPs, usados a exaustão, na sádica tortura do termo. É que na época eu raciocinava que assim como Marcel nos legou seu L.H.O.O.Q. [a Gioconda de bigodes], os LPs e radiolas seriam cópias, clones de um objeto de arte, portando passíveis de intervenção, destruição, sem lástimas. Com um bisturi eu fazia groovies [intersecções] nas faixas dos álbuns sorteados ao acaso e isso me trazia maravilhosas melodias, extensas o suficiente para meu hábito de pintor. Pouco tempo depois, numa sincronicidade agradável, me chegou esse ritmo junto com a poesia e o graffiti das grandes cidades e mais ainda com o universo dos novos DJs e seus samplers.
Platão orava que a sociedade é um organismo, grande e animal, que somos obrigados a servir e alimentar e que temos a fraqueza de adorar. E analisando essa metáfora legado deste grego [o orador do sujeito x objeto] devemos ainda nos perguntar:
- As máquinas trabalham para nós ou trabalhamos pra as máquinas?
Enquanto músico minhas melhores canções sempre foram feitas em aparelhos eletrônicos e sintetizadores, meu mobille contém um programa que me dá excelentes resultados, meus amigos pelo globo me enviam canções que muitas vezes não foram, nem serão, repassadas pelos meios antes tradicionais. Analisem que pescando canções na Net eu percebo que verdadeiras crianças, em favelas e condomínios fechados de pequenas e enormes metrópoles, através desses up/donwloads alimentam a poesia do RAP, com sons que no século passado seriam tachados de espaciais... E quando numa simplicidade naive com aspecto de publicidade Magritte nos disse que um quadro não é um cachimbo!
- O que antes formatamos como paradigma de Ser [instrumento da grande música] não poderia ser integralmente revolucionado?

“Senão o futuro [a imortalidade] estaria perdido para nós...”



E lembrem-se: A verdadeira arte é não se isolar...



...


Um comentário:

UN VOYAGEUR SANS PLACE disse...

É um texto interessante. Reflexão muito boa essa das máquinas. Dá um certo medo de no futuro o ser humano se torno "supérfluo", não só pelas máquinas, mas pela massificação da vida, do desprezo pelo que é individual e único. Só o que é de carne e osso pode ter sentimentos, não é? E não é só o sentimento que conduz a vida?

Fica com Deus, sheli. Até breve.

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